sábado, 29 de novembro de 2008

Valsa pra Val

Pasmem!
Por um momento
achei que era o vento
e quis te levar,
pra dentro do verso
e te cantar

Vi voando várias vozes
varados violões
vestidos de vida
a desentoar:

Volta Val, que sem você
não há motivo pra valsa valsar

e me deixou com a cara colada no vitrô.


Arthur Vital

29/11/2008

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Boêmia

Minha inspiração é boêmia
movida a luar e cigarras
Da noite eu faço os versos
escuros escritos, cheios de farra
palavras em bandeira dois

Golfando esses verbos embriagados
que andam nos becos cegos de treva
gritando e doentes de rir,
caídos de lado, trovadores de sarjeta

essa é a causa dessas rimas perdidas
das imagens distraídas, desse ritmo torto
de poesia-esboço, que não sabe pra onde ir
que quando chega a alvorada
lembra o caminho de casa
e se esquece que na última madrugada
foi poesia debochada, não ligava pra nada
mas foi feliz.


Arthur Vital

28/11/200

Sobre a Música

Que venham os Dós e Lás
que rasguem-me os tímpanos
aumentem a frequência do meu pulsar
que desafinem, que brinquem entre si
descompassem a minha respiração
e o coração, que já nem sabe o por que
do acelerar

eu quero sentir
todas essas partículas
vibrando de cantar
contraponteando meus pêlos
eriçados, sinais de arte na pele
que essa harmonia revele
a origem do pranto
de soluçar

quero ouvir, seja samba ou jazz
comendo as palavras
travadas na garganta
e na emoção
diante de sons, tão reais
que não perca a majestade
essa música, voz da verdade
que não sei a explicação
abraço-te em tom menor
que é pra não me deixar,
jamais.


Arthur Vital

28/11/2008

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Amor Proibido

Amarra e tranca num baú
os beijos, vagos de pensar
se é azul a indecência
rubro torna-se o pesar

E o segredo tilintando
ansioso pra fugir
com a surdina da vergonha
cala a culpa já gritando
sem coragem para ouvir

Até a quebra do encanto
seja ferro ou de cristal
escondidos pelos cantos
se entregando ao natural.

-

Minutos de amor proibido
compram uma vida direita?

Faz-se inútil questionar
a razão só anda à espreita
com a libido a governar.


26/11/2008

Arthur Vital

terça-feira, 25 de novembro de 2008

3:53

Três e cinquenta e três
são só três
cada um na sua vez
sem tripudiar
nem pular
pra casa do seis

tremendo três
trouxe a tristeza
que só três e cinquenta e três
pode mostrar

espere às três
e cinquenta e três
(que agora é seis)
e verá.

25/11/2008

Arthur Vital

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Menino na Cidade Grande

As malas, quase prontas, já lacradas
pouca roupa, lembranças demais
uma trouxa de saudade amassada
e o furor de uma vida pra trás (ou à espera)

O inseguro afivela a coragem
o menino na frente de um prédio
já tarde não vê mais remédio
que possa adiar a viagem

o frio que incomoda suas tripas
espera-o na cheia estação
não sabe se bem ou mal vindo

que diz o vento entre as ripas
uivando esperando o verão
com um sol de deixar tudo lindo.

24/11/2008

Arthur Vital

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Poesia Empalhada

Madruguei olhando a lua
Me estufei de poesia
Empalhei-me de palavras
letras nuas, soltas no papel

Se a vida anda crua
e o sangue correndo a vácuo
Me perdôo por não ter
minhas dores sob um véu

Não roguei a transparência
Nem as chaves do armário
mas parece penitência
ter o peito feito aquário

Sem Acará, nem Lambari
é vazio, cheio de vão
minha palha chama arte
e a agulha, inspiração.


20/11/2008

Arthur Vital

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Máquina

Eu sou a máquina
o moinho gerador
energia térmica
forno à paixão

Suor descendo entre as calhas
lubrificando os engenhos
ofegante força pneumática
sem compasso, pouco tenho

Ou a lenha me alimenta
estalando, é fogueira
é poeira, é cinzenta
é finada a motriz

E o mecânico que
de nada me adianta
que só brada:
"se alevanta! se alevanta!"

e desligo por motivos vis

20/11/2008

Arthur Vital

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Pássaros

Um pássaro, livre e selvagem
que tem vida independente
canta, voa e as vezes sente
Bate asa embriagado
de brisa e libertinagem

Que faz dos seus vôos só
combustível do pecado
Entranhado com as corujas
e com tudo que é virado

Num passeio cotidiano
Se encantou por uma ave
não estava nos seus planos
Esses bichos de gaiola

Ele, é ave de rapina
Que só quer gozar da vida
Diz que nunca se inclina
Por bobagens de paixão

Mas o ser lá da gaiola
era tão encantador
Seduziu a passarola
Despertou-lhe um amor

Se envolveram, entre-grades
sem ligar para o mais tarde
só comendo de vaidade
de luxúria e pouco arroz

Eis que um dia o esperado
Nosso pássaro danado
Sem querer se apaixonou
E ficou tão desolado
encontrou um obstáculo
Entre ele e seu amor.

19/11/2008

Arthur Vital

Esquartejamento

Desfiz-me dos olhos porcos
que só sombra, via d'alma
contemplando a carne morta
sentimentos na redoma

extirpei também ouvidos
que pra nada foram dados
se minha mente não compreende
o que tinha escutado

Desapus imisericordioso
das narinas e da boca
se aquelas só cheiravam
merdas que esta tanto evoca

indiferente, amputei os membros
com gangrena de pecado
pouco me vale essas pernas
se pra andar, não tenho usado

hoje continuo podre
pensamentos envermados
mas de atos nada faço
pois sou só um aleijado.



Arthur Vital

12/11/2008